Associado da ACATE fala sobre os desafios da tecnologia agrícola para 2019
O mineiro Bernardo de Castro cresceu ouvindo conversas sobre os desafios empresariais de fazendas corporativas. Seu avô criava gado e seus tios trabalham como gestores em grandes unidades agrícolas. Aos 23 anos, recém formado, decidiu criar com dois amigos uma startup desenvolvedora de soluções com foco em agricultura de precisão. Dez anos depois, em 2014, a Hexagon, referência mundial em soluções digitais, adquiriu a empresa e manteve Bernardo como presidente da divisão de Agricultura. A empresa desenvolve sistemas completos para o agronegócio, da preparação do plantio e da colheita até a logística de transporte da matéria-prima. Na entrevista a seguir, Bernardo fala sobre como o desenvolvimento de fazendas inteligentes foi da ficção à realidade.
Quais são os principais desafios do agronegócio para 2019 e como a tecnologia pode ajudar a solucioná-las?
Bernardo – O agronegócio vende commodities e isso faz com que as margens de lucro sejam muito apertadas. A saída é aumentar a rentabilidade otimizando os processos. Hoje, os gestores de fazendas agrícolas buscam tecnologias para utilizar recursos de forma inteligente e, assim, aumentar a produção sem ocupar mais terras, combater os efeitos climáticos e reduzir a dependência de mão-de-obra, cada vez mais escassa e menos qualificada no campo. Todos esses desafios podem ser resolvidos pela convergência tecnológica.
O que é o conceito de uma fazenda inteligente?
É uma fazenda conectada e administrada por meio de soluções digitais capazes de integrar todos os processos agrícolas, de ponta a ponta. Essas ferramentas estão continuamente produzindo informações relevantes que orientam a tomada de decisões dos gestores. Munidos de tecnologia, os produtores têm respostas precisas resultando em eficiência dos processos e, claro, produtividade e lucratividade.
Essas fazendas já existem no Brasil ou ainda são uma ficção?
Bernardo – Já temos fazendas com praticamente todos os processos digitalizados. Em 2018, a Hexagon implantou um sistema completo nas usinas do grupo São Martinho, um dos maiores do setor sucroenergético no mundo. Os resultados de nossa tecnologia combinada com outras ações do grupo já começaram a aparecer. Há clientes que já relataram uma redução de frota de mais de 30% com a adoção da tecnologia e de melhorias em seus processos.
Quais são os maiores obstáculos para concretizar a convergência tecnológica no campo?
Bernardo – Um dos maiores desafios é a fragmentação e o engessamento dos sistemas tecnológicos. Há muitas tecnologias que não se conversam e processos que não se interagem da melhor maneira, comprometendo os resultados. Por isso, investimos para oferecer soluções digitais completas aos clientes. Isso é possível porque fazemos parte de um grande grupo tecnológico, a Hexagon, que dispõe de diferentes tecnologias de ponta. Vemos a agricultura como uma grande fábrica com uma área produtiva. Como toda indústria, o campo precisa de processos integrados e eficientes para produzir mais com menos. Portanto, as mesmas técnicas de controle e sincronização que vemos em um chão de fábrica podem e devem ser aplicadas na agricultura. Sistemas de gestão, fluxo de informação, supervisão, controle, todas essas ferramentas de otimização dos processos são similares na indústria e no campo.
O que podemos esperar em novos desenvolvimentos tecnológicos para o campo?
Na Hexagon estamos combinando diferentes tecnologias no desenvolvimento de soluções digitais com a ideia de prever o futuro. Em qualquer atividade, antecipar problemas é a melhor forma de evitá-los e, assim, resolvê-los. Exemplos são a conclusão sobre o risco de falha de máquinas, permitindo manutenções preditivas da frota; identificação dinâmica de oportunidades de alocação de recursos, realocando-os de forma otimizada; identificação automática de infestação de pragas, antecipando ações de combate. Todas estas predições passam pelo sensoriamento, tecnologias de integração e análise inteligente de dados, especialidades da Hexagon.