Em SC, companhias de TI migram para pequenos municípios
As empresas catarinenses que optaram pela mudança produzem software e máquinas, como equipamentos de corte a laser para o setor têxtil e para o controle do tempo de filas em bancos. Em Biguaçu, – uma cidade de apenas 56,8 mil habitantes (um sexto da população de Florianópolis) -, além de um preço melhor, elas encontraram uma área com dimensões raras.
Com 30 mil metros quadrados, o terreno em Biguaçu é de um tamanho difícil de encontrar em Florianópolis, onde até o prefeito Dário Berger (PMDB) reclama que não há áreas disponíveis no centro da cidade para construir uma sede administrativa para a prefeitura. Além disso, as empresas vão pagar a mesma alíquota de Imposto sobre Serviço (ISS) da capital (2%), terão como doação por parte do município cerca de 4 mil metros quadrados e isenção de Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU) por dez anos.
"Para Biguaçu, essa chegada é altamente relevante porque envolve as chamadas indústrias limpas, que com pouca área conseguem alto faturamento e aumentam a arrecadação", diz o secretário de indústria e comércio John Kennedy Lara Costa. Ele não revela dados de arrecadação do ano passado, mas diz que a expectativa do município é de arrecadação de R$ 800 mil no primeiro ano só com o ISS do setor. A expectativa é de que o com o desenvolvimento do setor ele pode até superar o segmento de plásticos, principal atividade econômica da cidade atualmente, ao lado do comércio.
A projeção é de que os investimentos totais das quatro empresas com o condomínio vão atingir R$ 8 milhões. A intenção é ter uma área construída de 15 mil metros quadrados, com a geração de cerca de mil empregos diretos e indiretos. A ideia é começar a construção já em 2009 e iniciar as operações em 2010.
Assim como Biguaçu, outras cidades da região metropolitana de Florianópolis, como São José e Palhoça, começaram recentemente a ser beneficiadas pela busca de novas áreas pelas companhias de tecnologia da informação. A migração para localidades próximas à capital é uma tendência, na opinião dos empresários, tendo em vista o aumento do número de empresas de TI a cada ano e o fato de que os grandes terrenos em Florianópolis já estão nas mãos das construtoras. A valorização das áreas é impulsionada pelo assédio para construção de condomínios residenciais de alto luxo e empreendimentos voltados ao turismo.
A média, segundo a Acate, é que anualmente são criadas de 30 a 40 novas empresas de TI. Hoje, existem cerca de 360 empresas de software e 110 de equipamentos em Florianópolis. Essas empresas empregam cerca de 6 mil pessoas. Em ISS, a arrecadação das atividades e serviços de informática na capital representou R$ 771 milhões em 2008, tornando o setor o segundo mais importante da cidade, atrás somente da assessoria em geral, rubrica que inclui diversos segmentos.
Há poucos dias, Leônidas Vieira Jr, presidente da Specto, finalizava a mudança para São José. A empresa transferiu-se de forma provisória de Florianópolis para uma área maior e pretende fazer uma nova mudança em 2012, quando pretende ter encerrado a construção da nova sede em Biguaçu. O mesmo deve ocorrer com a Audaces, que locou uma área em São José e depois também vai a Biguaçu.
De maneira geral, as empresas que agora estão migrando nasceram bem pequenas, dentro da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em projetos de incubação. É o caso da Specto. Hoje, a empresa reúne 60 funcionários e tem meta de crescer 50% em faturamento neste ano, mesmo com a crise econômica. "Desenvolvemos tecnologia para bancos e prédios inteligentes, voltados à alta renda, que sofrerão menos com a crise", diz Vieira Jr.
Em parte, a mudança para o município vizinho também se deve à falta de atenção da prefeitura de Florianópolis em relação ao setor, diz o presidente da Cianet, Norberto Dias. "Há mais de 15 anos que o setor se expande e nunca houve um fórum de tecnologia, nem na Câmara de Vereadores nem na Assembleia Legislativa. Só hoje o prefeito está pensando em criar uma secretaria de Ciência e Tecnologia."
A prefeitura de Florianópolis foi procurada pelo Valor, mas não se pronunciou.
Em Biguaçu, as empresas querem manter uma parceria mais próxima com o município. Já falam em criar um "município moderno", ajudando na informatização da própria prefeitura, e na intenção de fechar parcerias para capacitar mão-de-obra.
Em Florianópolis o setor conta com baixo ISS, atualmente de 2%, e com algumas iniciativas novas, voltadas a abrigar empresas, como o projeto Sapiens Parque, desenvolvido pela Fundação Certi em parceria com o governo do Estado. O projeto visa especificamente a instalação de empresas de tecnologia no norte de Florianópolis.
Segundo empresários, o problema do Sapiens Parque, que prevê 4,5 milhões de metros quadrados de espaço total, é a demora na liberação dos terrenos. A Audaces esperou três anos por uma área na localidade. "Agora, não dava mais para esperar", diz Claudio Grando, presidente da companhia. A direção tomada foi Biguaçu.
De acordo com José Eduardo Fiates, administrador do Sapiens Parque – projeto que existe desde 2002 -, houve demora na liberação da licença ambiental de instalação e urbanística. A aprovação levou cerca de 3,5 anos, devido ao tamanho do empreendimento. Além disso, o projeto está sendo feito em quatro fases e todas as áreas precisam passar por um processo de licitação antes de ser liberadas por se tratar de área pública. Por enquanto, há apenas sete pequenas empresas instaladas. A intenção é abrigar 400.
Rui Gonçalves, da Acate, considera um problema a distância que as indústrias da Grande Florianópolis terão em relação à UFSC, o principal centro de pesquisa da região, mas afirma que a discussão não deve recair sobre qual cidade é mais adequada para a instalação das empresas. O ponto principal, afirma, é construir um polo capaz de envolver toda a região metropolitana, já que a tendência é que essas cidades formem um "único espaço" no futuro.