Difusão tecnológica é lenta no Brasil
Na América Latina, a comparação não favorece o Brasil. No Chile, 36,4% dos empreendimentos iniciais lançam produtos novos, na Argentina e Uruguai, 30%, e no Peru, 29%. Para os empreendimentos já estabelecidos, o Chile é o primeiro do ranking, com 37% de empreendedores lançando produtos novos, a Argentina tem 28%, e o Peru, 21%. O Brasil também apresenta baixa proporção de uso de tecnologias novas: 1,7% dos empreendimentos iniciais e 0,7% estabelecidos usam tecnologias disponíveis há menos de um ano. A pesquisa GEM 2008 aponta que instituições como o Sebrae, cooperativas de produção e Arranjos Produtivos Locais (APL) são alternativas promissoras para enfrentar essas questões.
Em entrevista exclusiva à TIC Mercado, Roberto Nicolsky, diretor geral da Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica (PROTEC), falou sobre os dados da pesquisa. Nicolsky ressaltou que os índices se referem à velocidade com que os países incorporam novas tecnologias e não à capacidade de produção da indústria – as novidades são geradas pelas economias desenvolvidas. Por isso, explicou ele, os países que não têm indústria e, portanto, não precisam criar, são os mais bem sucedidos na pesquisa. Para ele, a posição do Brasil deve-se ao fato de ser um país intermediário que importa componentes para fabricar internamente.
De acordo com a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM), o Brasil possui uma das mais baixas taxas de uso de tecnologias disponíveis há menos de um ano no mercado. O que explica a inovação estar longe das empresas brasileiras?
Roberto Nicolsky – O que o estudo mede é a velocidade com que um novo produto ou uma nova tecnologia se difunde no país, ou seja, a taxa de modernização da economia. Essas novidades não são geradas no próprio país, mas principalmente em economias desenvolvidas – como Estados Unidos, União Europeia ou Japão. O elevado índice de um país nesse estudo é indicador de que as novidades são rapidamente incorporadas ao seu mercado interno e não que foram geradas em sua indústria. Portanto, tem uma relação direta com a participação do comércio exterior no PIB do país e não com o seu desenvolvimento tecnológico. Por isso os países mais bem sucedidos são os que não têm indústria – como Chile, Peru, Uruguai – ou têm indústria obsoleta e sem incorporação de inovações – como a Argentina ou Rússia.
Os países em desenvolvimento acelerado – como Coreia, Taiwan, China, Índia – se empenham em fabricar ou utilizar os novos produtos e tecnologias com a introdução de inovações, isto é, melhorias, nos produtos e tecnologias. Países intermediários, como o Brasil, tendem, pelo menos, a importar componentes e fabricar internamente o novo produto, o que torna a difusão ainda mais lenta e os índices GEM ainda menores. O problema que enfrentamos é que temos tido uma constante redução do valor agregado à produção, principalmente em produtos mais recentes. Isso gera um perigoso processo de desindustrialização, que pode ser medido na redução na participação da indústria de manufaturas no PIB e no aumento do déficit no balanço comercial nos setores de maior conteúdo tecnológico. E amanhã pode ser identificado pelo aumento do índice do GEM.
A pesquisa GEM aponta que instituições, como o Sebrae, cooperativas de produção e Arranjos Produtivos Locais, são alternativas promissoras para enfrentar essas questões. O que essas instituições têm feito para disseminar a cultura da inovação no país?
Nicolsky – O índice GEM mede difusão tecnológica e está muito longe de avaliar a taxa de agregação de inovações tecnológicas geradas pela indústria local. Essas são melhor avaliadas pelos indicadores de patentes, conteúdo tecnológico da pauta de exportações, déficit ou saldo setorial na balança comercial, etc. Quanto ao Sebrae, não há dúvida de que tem se empenhado em disseminar a cultura da inovação, embora sem o caráter específico da tecnologia, porém com mais ênfase em gestão de empresas de pequeno porte.
Que tipo de políticas são necessárias para os pequenos empreendedores brasileiros superarem a crise e subir nesse ranking?
Nicolsky – Um exemplo muito oportuno de políticas e da disseminação da cultura da inovação no país são os editais de subvenção econômica da Finep, mas, principalmente, os editais do Senai (agora, Senai-Sesi), que oferecem seu apoio tecnológico no desenvolvimento e agregação de inovações na pequena indústria, ou seja, de melhorias de produto e tecnologia. Os editais Senai têm sido muito bem sucedidos e vêm crescendo significativamente (cerca de três vezes neste ano), apesar de ainda disporem de recursos muito limitados. A PROTEC está se empenhando em construir com parceiros um programa que amplie significativamente a oferta de recursos para o tipo de edital Senai e ampliando o espectro dos agentes de apoio tecnológico.