Empresas tiram da gaveta projetos de inovação tecnológica
Com a retomada dos investimentos após a crise, as empresas também estão tirando da gaveta projetos de inovação. Depois de uma redução no ritmo de contratação de financiamentos nas linhas para pesquisa e desenvolvimento, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) contrariou a expectativa de queda e fechou 2009 com liberações pouco acima do patamar de 2008, de R$ 573 milhões.
Com a retomada dos investimentos após a crise, as empresas também estão tirando da gaveta projetos de inovação. Depois de uma redução no ritmo de contratação de financiamentos nas linhas para pesquisa e desenvolvimento, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) contrariou a expectativa de queda e fechou 2009 com liberações pouco acima do patamar de 2008, de R$ 573 milhões.
Já a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) superou no ano passado R$ 900 milhões em operações de crédito, mais de 60% acima de 2008. Em 2010, projeta desembolso quase 80% maior: R$ 1,6 bilhão.
Na transição de 2009 para 2010, grandes companhias anunciaram investimentos em centros de pesquisa e parcerias para desenvolver novos produtos e processos. Na semana passada, a General Eletric anunciou a criação de um novo centro de pesquisas no Brasil, o quinto no mundo e o primeiro na América Latina de uma das empresas que mais investem em P&D no mundo: US$ 6 bilhões por ano. O valor do investimento e o local do centro não foram definidos, mas ele deve sair do papel em 2011.
Multinacional brasileira, a Vale anunciou em dezembro a criação do seu instituto tecnológico e vai construir três novos centros de pesquisa no País. Ainda este ano, a empresa contrata 50 cientistas e define terrenos e projetos dos centros que vai erguer em São Bernardo do Campo (SP), Ouro Preto (MG) e Belém (PA). Em dois anos e meio, a Vale vai desembolsar R$ 72 milhões dos R$ 120 milhões do investimento total para os três centros, complementado por fundações de fomento dos estados.
Depois de três anos de estudos, a mineradora criou o Instituto Tecnológico Vale (ITV) para dar coordenação às unidades de pesquisa da companhia, que planeja investir R$ 140 milhões este ano em P&D. Além dos novos centros, o ITV vai promover a sinergia dos que a Vale já tem, como os pioneiros de Belo Horizonte, o Centro de Excelência em Logística inaugurado há duas semanas no Espírito Santo e o centro de pesquisas da Inco, no Canadá, herança da aquisição da subsidiária em 2006. Segundo Luiz Mello, diretor do ITV, a intenção da Vale é ter mais projetos de longo prazo que a empresa vinha deixando de lado diante da diversidade de interesses e áreas de atuação.
“Quando a pesquisa é descentralizada, a tendência é o foco ficar mais no curto prazo. A pressão da unidade de negócio é muito grande e falta tempo para pensar no futuro”, explica Mello. Para ele, a pesquisa pode dar as soluções que a mineradora precisa para compatibilizar sua atividade com a crescente restrição da legislação ambiental no mundo.”Existe na Vale a consciência de que está em curso a mudança de uma economia de mercado para uma economia verde”, diz.
Biotecnologia
Depois de se tornar o maior laboratório farmacêutico do País a reboque do sucesso dos genéricos, a EMS aposta na biotecnologia para aumentar o seu portfólio. No mês passado, assinou um acordo técnico-científico com o laboratório chinês Shangai Biomabs, para o desenvolvimento e produção de biofármacos na sua unidade em Hortolândia (SP) em até cinco anos. Lá, a empresa construiu um moderno centro de pesquisas, para o qual direciona 6% do seu faturamento de R$ 2 bilhões e onde já emprega 200 cientistas.
Em vez de investir num centro próprio, a telefônica Oi prefere o modelo de inovação aberta. Em dezembro, fechou convênios com quatro instituições de pesquisa em busca de inovações na área de transmissão de dados. A companhia quer aproveitar o estoque criativo de universidades e institutos, como o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), em Florianópolis. Lança o desafio e paga para quem entregar a solução.
“É uma forma nova de inovar. A empresa fica focada no mercado e vai buscar na academia as soluções. É um modelo parecido ao da Apple nos Estados Unidos”, explica José Alberto Aranha, diretor do Instituto Gênesis, incubadora de empresas de base tecnológica da PUC-Rio que também assinou convênio com a Oi. A companhia, que recentemente recebeu financiamento de R$ 4,4 bilhões do BNDES para investimentos, não quis revelar seus gastos com inovação.
BNDES e Finep veem aumento da demanda
O aumento da demanda por crédito para o desenvolvimento de novos produtos e processos no BNDES e na Finep reflete os incentivos criados pelas duas principais agências brasileiras de fomento da inovação em 2009 para manter as apostas num setor que é o primeiro a sofrer cortes em momentos de incerteza.
Em meio à crise, o BNDES incluiu a inovação nas linhas com juros reduzidos (3,5% a 4,5% ao ano) do Programa de Sustentação do Investimento (PSI), criado no início do segundo semestre para incentivar o setor de bens de capital. Nos três primeiros meses, o PSI liberou apenas R$ 100 milhões para P&D. Em novembro, a carteira tinha saltado para R$ 286,2 milhões.
Segundo Helena Tenório, chefe do Departamento de Políticas e Programas do BNDES, o banco já havia liberado R$ 472 milhões em novembro e os números preliminares de dezembro indicaram a superação da marca de 2008.
Incluindo o financiamento de máquinas para a modernização de processos em pequenas empresas, o banco fechou 2009 com cerca de R$ 1,09 bilhão liberados para pesquisa e incrementos de processos industriais. O banco ainda tem R$ 647,8 milhões contratados a desembolsar e R$ 1,21 bilhão em operações aprovadas.
O resultado contrariou as expectativas de queda nos desembolsos que o BNDES traçou no início do ano passado. “Se já não esperávamos crescimento em 2009, dá pra comemorar que não houve retração”, afirma Helena, para quem o PSI ajudou as empresas brasileiras a perderem o medo da crise.
O Estado de S. Paulo