Quem disse que “nós da quebrada não podemos usar esses espaços de inovação?”
Nascido na periferia da zona norte de São Paulo, Jefferson Lima teve seu primeiro contato com computadores no ensino fundamental II, o que despertou seu interesse e o ajudou a passar em uma seleção para um curso técnico de informática e que depois garantiu seu primeiro emprego como digitador.
Da sua trajetória do menino que cresceu entre os bairros Cachoeira e Jova Rural até se tornar empreendedor social em Florianópolis, o que fez diferença na sua jornada foi a possibilidade de estudar e ter o apoio da família, realidade bem diferente dos seus amigos da quebrada paulistana.
“Eu tive meus direitos garantidos”, resume o idealizador do Prototipando a Quebrada (PAQ), projeto social periférico de educação tecnológica criado na região metropolitana da capital de Santa Catarina em 2018.
Do trabalho voluntário na Escola Social Marista Lucia Mayvorne, no bairro do Mont Serrat em Florianópolis, onde Jeff, como é conhecido pelos amigos e parceiros, atuou como voluntário na educação popular em cursos como os de robótica, surgiu a pergunta que abriu espaço para criação do projeto da sua vida: “Porque nós da quebrada não podemos usar esses espaços de inovação?”
Quatro anos depois, com mais de 540 famílias impactadas e 25 investidores, o projeto tem planos promissores para 2022. Até o final do ano, Jeff e a equipe do PAQ – colaboradores, educadores e voluntários – querem ajudar pelo menos 100 jovens das periferias de Floripa estejam nos programas de formação da ONG, e que metade estejam no mercado de trabalho com programas de aprendizagem profissional e estágios no ecossistema de tecnologia da região.
A expectativa é que 300 alunos passem pelos cursos de imersão e aceleração, especialmente para ocupar parte da demanda do mercado local por mão de obra especializada na área de programação.
Serão formadas durante o ano mais quatro turmas de imersão no espaço criado pelo projeto em parceria com a Associação Catarinense de Tecnologia (ACATE) e o Impact Hub no Centro de Inovação ACATE Primavera (CIA Primavera). Os doze jovens formados em novembro do ano passado e que estão na segunda fase do processo de aceleração estão sendo encaminhados para o mercado de trabalho e participando de processos de contratação de jovens aprendizes, sendo que cinco deles no processo seletivo da Softplan, empresa catarinense com 30 anos de mercado e uma das maiores desenvolvedoras de software do Sul do país.
E mesmo com a pandemia, o PAQ conseguiu contornar as dificuldades e restrições com um modelo híbrido de aprendizagem com professores e mediadores em contato remoto com os alunos ao mesmo tempo em que eles tiveram acesso ao espaço de educação profissional no CIA Primavera.
“PARTICIPAR DA FORMAÇÃO DE JOVENS DEVE SER UMA CONSTANTE”
Além de fazer parte do ecossistema de desenvolvimento social de outras entidades como a rede Gerando Falcões, o idealizador do projeto acredita que o projeto tem potencial para ser escalável e ganhar mais espaço nas empresas do setor de tecnologia em Santa Catarina.
“Infelizmente nós temos favelas, quebradas e espaços com vulnerabilidade social em todo o Brasil. O que o mercado precisa entender é que participar da formação destes jovens de 14 a 18 anos tem que ser uma constante. Não adianta dar apenas o curso de formação e programação, mas também criar espaços de aprendizagem com controle de qualidade, uma rede de apoio e mentores que se preocupem realmente com o desenvolvimento deles. Investir em projetos como o PAQ, com garantias de direitos aos jovens, é uma forma contínua de garantia de mão de obra“, avalia Lima.
Desde abril de 2021, o projeto é um dos novos incubados no Instituto de Apoio à Inovação, Incubação e Tecnologia (Inaitec). É no espaço da entidade no bairro da Pedra Branca, em Palhoça (SC), um dos locais de formação de jovens do projeto social.
Um terceiro espaço está para ser criado pelo PAQ na região de Florianópolis. Ainda no primeiro semestre deste ano, o Prototipando deve ter um espaço na Bewiki, no centro da capital catarinense. A proptech, que investiu R$ 100 milhões em hub de compartilhamento de espaços e serviços, pretende promover a imersão de jovens no universo da tecnologia.
“O objetivo é inseri-los no mercado de trabalho através de programas de aprendizagem profissional. A parceria com a Bewiki também viabiliza um escritório para a iniciativa, que terá uma equipe dedicada dentro do espaço, acompanhando a realização de novas turmas compostas por adolescentes da região”, explica Maurício Assis, gerente de Projetos do Impact Hub Floripa e gerente de Comunidades das verticais Bework e Behome, da Bewiki.
A educação que mudou o destino do Jeff, também deve expandir suas ações de formação na área de tecnologia fora dos limites da grande Florianópolis. O PAQ estuda propostas de empresas da região de Blumenau, mas a ideia é criar um novo espaço na região do Vale do Itajaí, ainda em 2022.
Fonte: SC Inova