Setor empresarial comemora aumento de recursos públicos para inovação
“A palavra-chave é execução. A implantação efetiva dos processos de inovação é o grande desafio. O horizonte das empresas deve colocar uma visão de longo prazo que o governo, no papel de articulador, já está promovendo”.
“A palavra-chave é execução. A implantação efetiva dos processos de inovação é o grande desafio. O horizonte das empresas deve colocar uma visão de longo prazo que o governo, no papel de articulador, já está promovendo”. A frase acima, de Antonio Carlos Teixeira Alves, CEO da Brasilata – proferida durante o seminário Inovação e Desenvolvimento Econômico, promovido pela FINEP e pelo Jornal Valor Econômico na semana passada – mostra que o empresariado já está incorporando a inovação às suas práticas de gestão e ciente de que pode contar com uma ampla oferta de recursos e instrumentos estatais.
“Há pouco tempo, este debate não era praticado pelas empresas. Hoje em dia, a situação mudou, pois vários empreendimentos desenvolvem sistematicamente a inovação”, destacou Glauco Arbix, presidente da FINEP. Para o executivo, os processos inovadores são a grande vantagem para países como Estados Unidos, onde 50% do PIB pós-guerra foi gerado por atividades ligadas à inovação.
O encontro da FINEP e do Valor Econômico, em que foram anunciados mais R$ 15 bilhões para inovação até 2014, levantou uma série de questões que pontuaram diversos debates econômicos nos últimos dias. Sim, os recursos para inovação tecnológica, capitaneados por agentes como a FINEP, cresceram e já chegam até muitas companhias que investem em P&D. Mas é preciso saber buscá-los. “Temos uma equipe própria para ir atrás de ofertas financeiras para inovação”, afirma Siegfried Kreutzfeld, diretor Superintendente da Unidade WEG Motores.
Para Mauro Kern, vice-presidente executivo da Engenharias e Tecnologias da Embraer, “os processos colaborativos e a constituição de redes serão a tônica em relação ao desenvolvimento”. Trocando em miúdos, os recursos existem, e mais do que nunca é preciso que empresas, universidades e agentes públicos acertem os ponteiros para transformá-los em inovação na ponta da cadeia.
“A FINEP é a instituição certa para fazer a mediação entre todas estas fontes de conhecimento”, ressaltou Mario Salerno, Coordenador do Observatório da Inovação da USP. Glauco Arbix concordou com o colega docente: “A FINEP é uma semeadora da inovação, alavancando engenharia e engenhosidade”.
Apesar de também endossar o conceito de rede, Kreutzfeld afirmou que ainda é difícil fixar um doutor com currículo apenas acadêmico dentro da empresa. “É uma cultura que, na WEG, ainda estamos tentando quebrar. Se equacionado este problema, que me parece geral, podemos avançar na superação do cenário de dependência”, contou. A solução da empresa, segundo ele, foi criar internamente um ambiente para cientistas.
75% da receia da Weg vem de produtos desenvolvidos nos últimos anos
Presente em diversos países do mundo – como China, Estados Unidos, e Argentina -, a WEG acredita que o investimento constante em P&D por parte das companhias seja o caminho concreto para o salto produtivo de que o país necessita.
“Hoje, 75% de nossa receita vêm de produtos desenvolvidos nos últimos cinco anos. É um dado muito importante, e que mostra não estarmos estacionados”, frisou Kreutzfeld, que destacou ainda a importância das pesquisas feitas no Brasil: “A política chinesa de proteção de patentes, por exemplo, não é segura e dados sigilosos podem ser perdidos. Complicado fazermos P&D por lá”.
Guilherme Lima, Diretor de RI da Whirlpool Latin America, também frisou que o setor privado deve utilizar os instrumentos públicos disponíveis.
"O aumento dos recursos reembolsáveis da FINEP, capitaneado por Glauco Arbix, constitui importante incremento para a indústria. Hoje nós é que temos de fazer o dever de casa para acompanhar o crescimento da FINEP”, afirmou. E têm mesmo. Os próprios palestrantes destacaram que a inovação é um processo de longo prazo, e que precisa ser incorporado como parte fundamental pela gestão empresarial.
Instrumentos como a subvenção econômica e participação nas empresas, segundo eles, seriam os mais adequados para que as companhias possam suportar o tempo do processo de absorção.
De acordo com Guilherme Lima, é necessário que também se olhe a aquisição e adaptação ética de inovações já concebidas como parte integrante do processo de crescimento de todas as companhias. “Inovar de forma incremental também é inovar”, frisou.
Empresas que inovam crescem mais
José Ricardo Roriz Coelho, diretor da FIESP, apresentou dados do IPEA de 2011 que mostram que os líderes tecnológicos (3,5% da indústria) respondem por 43,3% do faturamento no país e por 49,2% do Valor de Transferência industrial. “Eis a força de quem inova”, mas ressaltou que ainda há muitos caminhos para serem percorridos: “o Brasil ainda é um ator reconhecido em poucas fronteiras tecnológicas, como o setor de alimentos”.
Para Laércio Cosentino, presidente da Totvs, educação e infraestrutura precisam ser projetos do país, não de governos. E afirmou: “somos uma empresa de donos sem fronteiras, baseada em pessoas que provocam a inovação”. O resultado tem dado certo: hoje, a Totvs já é a maior empresas de software da América Latina e a sexta do mundo. “A verdade é que não tem como desenvolver o país sem inovação”, destacou.
O seminário contou ainda com a participação de Carlos Calmanovici, presidente da ANPEI, Rafael Lucchesi, diretor-geral do SENAI, e Mauro Borges, presidente da ABDI. Para Lucchesi, “é necessário aproximar o que é visto nas grades curriculares da escola de engenharia com o que acontece no chão de fábrica das empresas. Ter maior capacidade e impermeabilidade entre um universo e outro”.
Calmanovici acrescentou que “as empresas brasileiras são inovadoras e serão ainda mais. Mas todas competem em um cenário internacional extremamente desafiador. Mesmo atuando no Brasil, a gente sofre a concorrência de produtos internacionais. Como o mundo vai crescer menos nos próximos anos uma boa gestão será fundamental para vencer a concorrência.
Para Mauro Borges, “já avançamos muito no período recente, em matéria de inovação, com mudanças legais e regulatórias da maior importância, aliadas a esforços de financiamento e fortalecimento dos mecanismos de estímulo”. O executivo também sinalizou ainda a importância de se empreender novos esforços para viabilizar maior aproximação entre empresas, universidades e institutos de pesquisa, potencializando resultados. “Agências como a FINEP, como já dito, podem fazer esta interface”, finalizou.