Primeiros passos do investimento anjo: como startups hoje consolidadas utilizaram recursos iniciais para escalar
O investimento anjo é considerado um dos principais fatores de sucesso para startups em 30 países diferentes, incluindo o Brasil, segundo a pesquisa “Financing High-Growth Firms: The Role of Angel Investors”, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Isso se deve porque o contato com este tipo de investidor não se resume apenas ao capital: ele também auxilia no desenvolvimento da ideia, produto ou serviço e no modelo de negócios, o chamado smart money.
Mas segundo a Associação Brasileira de Startups, apenas 26,2% das startups brasileiras em 2020 receberam algum investimento ou incentivo financeiro desde sua fundação – dos que tiveram algum aporte, a maioria (41,5%) foi na fase dos anjos.
Algumas empresas de TI catarinenses que hoje estão consolidadas no mercado receberam investimento de anjos ainda nas fases iniciais de desenvolvimento ou em momento de um reposicionamento. É o caso da Winker, que oferece soluções para o mercado imobiliário: após um trabalho de branding em 2015, teve o primeiro recurso externo com três investidores anjo para pivotar um novo modelo de negócio, antes focado apenas em venda direta para condomínios.
Até então, a Winker contava apenas com capital próprio e mensalidade dos condomínios, e notou que uma das formas de escalar o serviço seria vender para administradoras. Com o investimento, a empresa desenvolveu em fevereiro daquele ano uma integração com um sistema contábil muito utilizado por administradoras e mudou sua forma de atuação no mercado.
A Winker iniciou 2015 com presença em 40 condomínios e, ao final do ano, já estava em 1.200 unidades. “Além do investimento, o apoio para o desenvolvimento das estratégias foi fundamental para o sucesso. Afinal, o investimento anjo não é volumoso, o risco é enorme e precisamos minimizar os erros. No nosso caso, deu muito certo” conta o CEO Henrique Melhado. Sem isso, ele comenta, a empresa não conseguiria suportar o rápido crescimento que veio a partir do ano seguinte.
“Investidor líder é fundamental para acelerar e orientar o processo”
A GeekHunter, empresa especializada na contratação de profissionais de tecnologia, sendo atualmente um dos maiores marketplaces de recrutamento da América Latina, recebeu seu primeiro aporte no primeiro ano de atividades, em 2016. Na visão de Celso Ferrari, fundador e COO, a escolha dos investidores não levou em conta apenas o aporte financeiro, mas principalmente a experiência para ajudar com conexões importantes para o negócio.
“Foram investidores com perfis complementares e que de fato conseguiram nos ajudar a cortar caminhos para crescer mais rápido. Ter um investidor líder para orientar e acelerar o processo foi fundamental para ser uma captação justa e sem grande perda de foco do negócio que estávamos criando”, explica.
A maior parte dos R$ 325 mil foram para a estruturação do time. Por ser uma empresa de tecnologia, a contratação de pessoas desenvolvedoras de software foi fundamental para conceber os primeiros recursos mais complexos do produto. Já o time comercial foi essencial para criar o primeiro entendimento do que seria a máquina de vendas do futuro e como a startup estaria pronta para um novo passo.
“Após essa estruturação e de números que mostravam que o negócio estava pronto para escalar, foi o momento para mirar em rodadas de investimento de valor muito maior. Nunca enxergamos a rodada de investimento como um objetivo, mas sim como uma consequência do momento que a empresa estava vivendo”, conclui Ferrari. Em 2019, a empresa recebeu uma rodada de R$ 2 milhões, com recursos dos fundos Gávea Angels, Bossanova e Hangar 8, para ajudar a expandir a atuação da empresa a outros polos de tecnologia no Brasil e a desenvolver novas soluções em seu marketplace.
Há oito anos, a fintech Asaas recebeu seu primeiro investimento anjo: R$500 mil para a folha de pagamento de profissionais da engenharia e para o marketing de performance. Mas a empresa ainda estava validando seu modelo de negócio e precisou mudar de rumo.
“O investimento foi determinante para nosso crescimento, pois nos permitiu focar totalmente em entender o problema do usuário e alterar o nosso produto sem precisar pensar em receita para pagar as contas do mês”, comenta o CEO Piero Contezini. Hoje, a empresa já recebeu mais de R$45 milhões em sete rodadas de investimento.
Em Santa Catarina, uma série de projetos e grupos de investidores atuam no ecossistema de tecnologia, como a Rede de Investidores Anjo (RIA/SC) e o SC Angels (com foco no mercado do Vale do Itajaí). Neste ano, uma novidade: a Fapesc e o StartupSC – que já apoiou 330 startups no estado – vão selecionar até 25 empresas que estão participando do programa de capacitação para receber um total de R$ 1,25 milhão em recursos.
*Fonte: SC Inova